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Ao entrar no Salão Nobre do Museu do Ipiranga (Museu Paulista da Universidade de São Paulo), na Capital, que reabre ao público nesta semana depois de quase uma década de portas fechadas, o visitante se depara com o maior símbolo da Independência do Brasil: o famoso quadro de Pedro Américo “Independência ou Morte”. Nele, há dom Pedro 1º imponente, em um cavalo, ao decretar o fim dos laços políticos entre Brasil e Portugal. Sabe-se, hoje, que dom Pedro 1º estava, na verdade, em uma mula e não montado à cavalo.
Apesar de a pintura não ser o retrato fiel ao momento, o quadro de Pedro Américo é o principal símbolo do fim da exploração de Portugal ao Brasil, que completa 200 anos nesta semana.
No Salão Nobre, no entanto, existe um quadro que demonstra a importância de uma pessoa que fora fundamental para a Independência do Brasil: José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido por Patriarca da Independência. O quadro com a imagem de José Bonifácio está à esquerda de quem olha o quadro de Pedro Américo.
Pouco se fala em José Bonifácio, mas ele foi um importante articulador político e principal auxiliar de dom Pedro 1º para que a ruptura entre Brasil e Portugal, enfim, ocorresse. Nascido em Santos, em 1763, José Bonifácio era da elite agrária do País. A condição financeira da família permitiu que ele estudasse em Portugal, enquanto no Brasil a educação já não era prioridade naquele período.
“Estudou ciências naturais, direito e o que hoje chamamos de ciências humanas. Então, ele desenvolveu um pensamento voltado para o liberalismo. Depois voltou para o Brasil. Ele veio com concepção contra monopólio. Ele encarna um pouco a noção nacionalista e entende que o Brasil deveria fazer transição para se tornar independente e lutar para que não fosse dividido”, diz o professor de história Eduardo Lima.
Enquanto o Brasil se preparava para deixar o domínio de Portugal, José Bonifácio foi o responsável por negociar com elites regionais a fim de evitar a divisão do Brasil em pequenos países.
“Ele é conhecido por ser estadista. E é verdade. Para ter um País unido, território unido, precisou-se muito de José Bonifácio para realizar acordos entre as elites. Então digo, por exemplo, em relações internacionais, porque ele negociou o reconhecimento da Independência do Brasil. Ele começa uma tradição diplomática no Brasil na arte da negociação. Depois aparecem Visconde de Rio Branco e Barão do Rio Branco como grandes nomes da diplomacia brasileira”, explica Lima.
Depois de o Brasil conseguir se libertar de Portugal, José Bonifácio foi o primeiro a ocupar o cargo de ministro das Relações Exteriores. Foi o primeiro também a governar o Rio de Janeiro depois da independência. Cargo este ocupado por ser ministro dos Negócios. O declínio de José Bonifácio ocorre, segundo o historiador Eduardo Lima, por ser abolicionista e não se corromper.
“Ele pensava uma Monarquia Constitucional. Ou seja, um país constitucionalista e com papel central do imperador. Agora, a grande sacada dele, ao contrário de meio liberais do século 19, ele era um cara abolicionista. E isso, mais a pressão de dom Pedro 1º quando se coloca acima da Constituição com o poder moderador, vai afastar José Bonifácio de dom Pedro 1º. Ele vai se exilar, ou seja, uma pessoa que não se corrompeu. Ele ficou fiel aos ideais até o fim de sua vida”, afirma Lima.
CIDADE DO INTERIOR DE SÃO PAULO LEVA NOME DO PATRIARCA
Com quase 40 mil habitantes, a pequena José Bonifácio foi fundada em 1906 (tornou-se município em 1926), e leva o nome em homenagem ao Patriarca da Independência: José Bonifácio de Andrada e Silva. A cidade está a poucos minutos de São José do Rio Preto, na região Noroeste Paulista.
O pequeno município tem uma forte ligação com as atividades agrícolas desde sua fundação no começo do século passado. Em comparação com cidades vizinhas, José Bonifácio apresenta excelentes números, como IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que é considerado alto na cidade.
Na página oficial da Prefeitura de José Bonifácio, há uma apresentação da importante figura histórica do País. A medida é para apresentar e justificar o nome do município aos próprios moradores e os curiosos que ainda não conhecem José Bonifácio. “Legítimo representante das elites rurais José Bonifácio foi um político conservador que odiava a democracia e não hesitava em lançar tropas contra as massas. Suas propostas de caráter mais progressista, como a abolição gradual da escravidão e a distribuição de terras inutilizadas para lavradores pobres, são circunstanciais, refletindo a inevitável influência dos princípios iluministas naquela época.
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