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Os homens e suas guerras
Rodolfo de Souza
14/08/2024 | 21:00
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Fernandes


No começo do século 20, antes mesmo do seu término, a grande guerra já entrava para a história como o maior conflito armado de todos os tempos. Nem desconfiava a gente daquele tempo que logo a grande guerra teria seu nome modificado para primeira grande guerra, uma vez que uma segunda, ainda mais devastadora, estava sendo gestada pelo ardiloso cérebro humano que, ao contrário, do que se espera de um cérebro, tende sempre a trilhar o largo caminho aberto pela estupidez.

Milhões de vidas se perderam em seis anos de perrengue, sem falar das que se foram antes, nos tempos em que a turbulência opressora fez surgir o ódio em larga escala, enquanto arquitetava a trama. 

Muitas guerras vieram desde então. Não que em passado remoto elas também não surfassem na onda da morte por atacado. Aliás, quando se passeia pelos países europeus, vê-se muitos castelos, verdadeiras fortalezas que outrora serviram de palco para grandes embates protagonizados pelos homens que tencionavam invadir e se apropriar de terras e reinos alheios. Hoje, levas de turistas tiram fotos em suas pedras, sobrepostas umas às outras por mãos grossas de um tempo que partiu, assim como partirá este que, gentilmente, me concede essas horas em que escrevo a respeito do ser humano e seu extraordinário apego pelo ódio.

Lá no Oriente Médio, como de costume, trava-se batalhas em busca de conquistas que, há muito, deixaram de fazer sentido. Destruir o inimigo que se encontra à espreita, tanto de um lado como de outro, talvez seja um subterfúgio para as verdadeiras intenções. 

Os soldados, moleques de corações embrutecidos, armados até os dentes, são treinados para matar sem saber exatamente a razão de ter de fazê-lo. Estão ali para cumprir ordens, somente isso. Habituados, fazem da destruição e da matança o seu dever de todos os dias. Desconfio até de que, uma vez humanos, procurem, volta e meia, um recanto para refletir a respeito e buscar uma explicação, algo que lhes diga o porquê de estarem desse lado do canhão e não do outro. É certo que não cabe a eles decidirem o destino da gente que corre para cima e para baixo, sem rumo, com o espírito carregado de medo do semelhante que, com o pretexto de eliminar o terrorista malvado, lhe despeja toneladas de bombas na cabeça. Não é possível que o semblante das pessoas que insistem em permanecer vivas, passe despercebido pelos olhos que expiam por detrás dos binóculos.

São, afinal, rostos retorcidos pela angústia e pela revolta, sinais que deveriam sensibilizar as pessoas de todo o mundo, uma vez que esses traços revelam que o infortúnio daquele povo pode ser o mesmo de todas as populações amanhã, considerando que a insanidade é e sempre será senhora dos homens que pensam deter o poder, sem saber que, na verdade, são escravos dele. 

Não é novidade, pois, que a tirania de tempos remotos era a mesma de hoje. Entretanto, chegamos num ponto em que as guerras não são isoladas como dantes, tendo em vista que este mundo já não é tão grande. A tecnologia fez dele pequeno, encurtando as distâncias e criando instrumentos de morte ultramodernos que voam rápido e atingem seus alvos com precisão. Inventou-os sem ter o cuidado de criar outros que funcionem a serviço da paz.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André.

É professor e autor do blog cafeecronicas.com




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