Cansei de escrever sobre a megalomania reinante neste pequeno espaço esférico que abriga também gente pacífica que se habituou a conviver com a insanidade. Acostumou-se ou simplesmente desistiu de pensar numa saída e se conformou, resiliente que é.
A loucura rosna com dentes ameaçadores, e sugere que toda a violência deve ser encarada como algo absolutamente natural e necessário, mesmo que se saiba que a mão daninha que a promove, tenciona quase sempre lucrar alguns cobres com a empreitada, a despeito dos indícios, cada vez mais frequentes, de que nem só isso lhe serve de alimento.
A loucura, não raro, uiva para a lua reivindicando, quem sabe, um estômago maior para poder digerir aqueles que considera inimigos, embora, sem causa aparente. Aliás, nem sabe mais o que deseja eliminar. Ás vezes, os homossexuais; noutras, os pobres; também os comunistas que inventou lhes são hostis e passíveis de punição severa.
Assusta, pois, o comportamento de gente que segue pelo caminho das sombras sem visar somente o ganho fácil. É o sadismo que a alimenta e começa a se sobressair, dando indícios de que, em futuro não muito distante, a hostilidade será exercitada somente pelo prazer de se assistir ao sofrimento alheio, indiferente ao lucro.
Mas de que falo, afinal? Temos assistido a espetáculos brutais, com requintes de crueldade nos dias de hoje! Será que o futuro mencionado já chegou, ou, na verdade, nunca teria deixado de existir?
Em tempos idos, a propaganda era algo disseminado pelos jornais, revistas, rádio, TV... Veículos que notadamente se esmeravam em bulir com a mente humana, conduzindo-a sempre por caminhos obscuros, desde que atendesse aos interesses de uns poucos que escondiam da maioria a existência de um mundo de possibilidades criado para favorecer exclusivamente determinada parcela da população. Não que em tempos modernos isso não funcione da mesma forma. Agora, no entanto, contamos com a valiosa contribuição da internet, que, com suas redes sociais, possui um alcance muito maior do que possuía a velha mídia.
Assim, um amontoado de desinformação é despejado diariamente na cabecinha oca de pessoas que um dia fugiram da escola ou que nela estiveram somente para encontros sociais. Povo que passou longe dos livros e que, consequentemente, não teve acesso à cultura e à sabedoria, tornando-se, desta forma, míope para questões que dizem respeito aos rumos da política, da economia e da sociedade como um todo.
Gente que, por ser tosca, é levada pela conversa fiada que procura tirar proveito de seu parco saber para levar a cabo seus planos, fadados ao sucesso, uma vez que essa mesma gente também é presa fácil de discursos religiosos que visam, tão somente e por meio do medo, usurpar-lhe o direito à liberdade de escolha.
E toda essa violência criada e aperfeiçoada à exaustão é cultuada com fervor por aqueles que dela necessitam para a prostração. Como um deus, a insanidade carrega o semblante do bem e mata a pretexto de eliminar o mal. Mal que acaba por engolir o próprio tirano.
Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André.
É professor e autor do blog cafeecronicas.com
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