Cotidiano Titulo Cotidiano
Leitura do mundo
Rodolfo de Souza
27/03/2025 | 09:18
Compartilhar notícia
Seri


É preciso ler o mundo, é preciso ler a vida.

Mais do que nunca, é preciso ler as pessoas, seus anseios, devaneios e tendências. O mundo, este mundo é feito de gente, porque, convenhamos, ela, afinal, lhe concede movimento. Não os costumeiros movimentos de rotação e translação. Refiro-me, sim, às energias emanadas dos corações pulsantes daqui deste solo esférico, que, de uma forma ou de outra, fazem rodar as suas engrenagens. Energias nem sempre positivas, admito. Apesar de que, aquilo que denota ser extremamente nocivo para mim, para outro representa a solução, a saída para todos os males do planeta. Tomemos como exemplo os vermes para quem um corpo em decomposição, não obstante a repulsa que possamos sentir por ele, é um verdadeiro paraíso onde se come muito bem.

São questões, enfim, que necessitam ser lidas e entendidas. Perdoe a redundância, distinto leitor, já que soa um tanto lógico isso de entender, uma vez que, quando se lê, a interpretação naturalmente dá origem ao entendimento. 

Caso contrário, não terá havido a leitura de fato.

Contradições à parte, há, como vimos, uma infinidade de leituras em cada canto e recanto dessa existência. Elas estão ali na tocaia, talvez ansiosas pelo olhar daquele que passa, vez ou outra, sem notá-las. 

Há linhas, fáceis linhas faceiras à disposição dos olhos afoitos por descobri-las. E há também as entrelinhas, matreiras conversas escondidas nos porões do texto, em cujas estruturas navegam as verdadeiras mensagens que, com frequência, vêm para bulir com nosso eu interior. 

Mas como é possível descobri-las ali, à espreita?

É preciso que se saiba, desde já, que para se encontrar as entrelinhas do texto ou da vida, porque palavras têm vida, é necessário um bocado de leitura das linhas, sem a qual fica difícil sequer entender o teor do que está sendo lido, seja uma dissertação de mestrado ou uma receita de bolo. 

E se palavras têm vida na pronúncia, têm ainda mais na escrita, razão pela qual insisto que só por meio da leitura é que se começa a entender um pouco de todo esse fenômeno que nos cerca e do qual fazemos parte. 

O consenso geral, inclusive, prega que a evolução da mente se dá por meio dela, um hábito que permite perscrutar os meandros das ideias ocultas nas palavras e nas expressões normalmente escolhidas a dedo, uma forma que encontra o escritor de apreender o espírito leitor e, assim, torná-lo um viajante incansável em busca do conhecimento e, consequentemente, do entendimento. 

Mas não só o conhecimento é oferecido pela leitura, que fique bem claro. Ela nos proporciona também leveza e diversão. Sim, diversão, entretenimento e a sensação de que somos abordados pela fala do escritor, como se ele conversasse conosco, com um certo grau de intimidade até. 

Tomar, pois, nas mãos um livro e começar a lê-lo é como zarpar num navio rumo ao desconhecido, no afã de se viver aventuras e, por meio delas, apreciar a descoberta. E mergulhar nesse novo universo nos faz até esquecer que viajamos por um mar feito só de palavras. É a magia da leitura que nos toma de assalto a alma e nos torna leves, justamente por nos oferecer, de bandeja, ciência e consciência de assuntos, até então, ignorados pela nossa inteligência carente do saber.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. 

É professor e autor do blog cafeecronicas.com




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;