Brasil, País tropical, abençoado por Deus e legislado por quem não tem hora para nada – a não ser pra sair correndo quando o escândalo bate na porta. Pois agora, em pleno calor legislativo de Brasília, quatro propostas de emenda constitucional resolveram dar um chega-pra-lá na jornada de trabalho. A ordem do dia: trabalhar menos, ganhar igual, produzir o que der e torcer pra economia aguentar firme. É a República do “depois a gente vê”.
Querem reduzir a jornada semanal de trabalho das atuais 44 horas para 40, ou – pra quem acha pouco descanso – 36 horas. E tudo isso, veja bem, sem mexer no salário. Sim, você leu certo. É o famoso “trabalhe menos, ganhe igual e, se puder, produza mais só com boa vontade e cafezinho”.
Claro que a proposta caiu no colo do presidente Lula como uma bênção divina em ano de escândalo no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Porque se tem uma coisa que distrai o povo melhor do que futebol, é uma promessa de não precisar mais bater ponto na sexta-feira. A ideia é tão bonita que parece slogan de escola de samba: “Quatro dias só, Brasil no ziriguidum, salário igual, produtividade nenhum!”
Mas antes que a gente comece a encomendar a rede nova e o plano bronze verão, vale lembrar que até os gringos da OIT (Organização Internacional do Trabalho) estão olhando de lado e dizendo: “Meu filho, não é assim que se faz conta”. Os números são de dar insônia em economista: até 18 milhões de empregos podem ir para a cucuia, PIB pode cair mais que a audiência do Fantástico, e os custos do trabalho sobem como elevador de luxo em prédio de lobby sindical.
Enquanto isso, centrais sindicais fazem pressão pra acabar com a tal escala 6x1, o que é ótimo – ninguém quer trabalhar mais que o relator da CPI. Mas, francamente, exigir isso sem tocar no salário ou na produtividade, num país em que o trabalhador médio rende menos que ventilador de rodoviária, é o equivalente econômico de colocar cobertura e cereja num pudim de vento.
As centrais exigem muito, os empresários gritam “Socorro!”, e o Congresso bate palma como se fosse show da Ivete. O resultado, claro, é que temos uma bela comédia pastelão: de um lado, os trabalhadores acreditando que vão virar dinamarqueses da noite pro dia; do outro, patrões preparando a guilhotina do corte ou o robô do futuro; e no meio, o governo dizendo “depois a gente vê como paga”.
Não é à toa que o Brasil é esse País encantado onde a produtividade cresce menos que cabelo de careca. E não venham dizer que a culpa é do povo! Culpa mesmo é de quem acha que PEC se aprova com base em torcida organizada de sindicato ou no humor do presidente do dia.
Como dizia meu tio com uma cerveja na mão, um carnê atrasado e o nome no Serasa: “Trabalhar menos é bom, mas alguém vai ter que pagar essa conta – e, no fim, adivinha quem é?”
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