Os juros futuros fecharam a segunda-feira em alta, com exceção dos vencimentos curtos, que ficaram de lado. O mercado reagiu ao acordo entre EUA e China, sob a leitura de que reduz o risco de recessão nos EUA e, consequentemente, alivia o impacto sobre as demais economias, o que trouxe pressão de alta para o dólar e para os rendimento dos Treasuries e levando a reboque a curva doméstica. As taxas curtas rondaram os ajustes anteriores, com o mercado à espera da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) amanhã e sem grandes alterações nas medianas para a inflação no Boletim Focus.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,805%, de 14,797% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2027, em 14,04%, de 13,98%. A do DI para janeiro de 2029 subiu de 13,35% para 13,46%.
Como os vencimentos longos vinham de quatro sessões de queda, havia espaço para recomposição de prêmios, mas ainda assim todo este trecho se mantém abaixo dos 14%. "O mercado faz esta correção justamente em função do acordo entre EUA e China, pela melhora da percepção de risco de recessão, que também traz alta para a taxa dos Treasuries. Aqui segue lá fora", resume o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno.
Os rendimentos da curva americana avançaram dada a migração de fluxo para as ações, por sua vez, puxada pela melhora do apetite ao risco. O dólar teve valorização generalizada, chegando a tocar novamente R$ 5,70 no intraday, mas perdeu força durante à tarde, fechando a R$ 5,6840 no segmento à vista. Pelo acordo, os EUA reduzirão as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%. A China, por sua vez, diminuirá suas tarifas sobre produtos americanos de 125% para 10%. O acordo vai vigorar por 90 dias.
Internamente, a agenda não trouxe destaques que pudessem influenciar os DIs curtos ou as apostas para a política monetária, com a montagem de posições limitada pela espera pela ata amanhã. "O documento pode ajudar o mercado a precificar os próximos passos do Copom", afirma Rostagno.
A precificação da curva do DI mostrava nesta tarde um mercado dividido entre alta e manutenção da Selic para a reunião de junho. Segundo o estrategista, a curva apontava nesta tarde 52% de probabilidade de aumento de 25 pontos-base e 48% de chance de estabilidade nos atuais 14,75%. A taxa terminal projetada era de 14,97% e a curva sugeria corte marginal da Selic, de 8 pontos, a partir de dezembro.
A falta de inspiração nos vencimentos curtos é explicada ainda pelo Boletim Focus, com mudança sutil nas medianas de IPCA. A de 2025 caiu de 5,53% para 5,51%, mas segue cerca de 1 ponto porcentual acima do teto da meta de 4,50%, que é onde está a mediana para 2026. A de 12 meses à frente cedeu também discretamente, de 4,97% para 4,95%.
Arnaldo Lima, economista da Polo Capital, lembra que a mediana para o IPCA de 2025 estava em 5,65% há quatro semanas e que a queda gradual sinaliza reancoragem das expectativas, ainda que permaneçam acima do teto da meta. "A redução das projeções está acompanhada por um movimento de apreciação cambial, com a taxa de câmbio esperada passando de R$ 5,90 para R$ 5,85, o que contribui para um menor repasse cambial (pass-through) aos preços domésticos", explica.
Diante do cenário mais favorável no câmbio e da leitura do IPCA de abril, o mercado permanece dividido quanto à Selic terminal, mas as expectativas devem ganhar contornos mais claros com a ata do Copom, que, segundo Lima, poderá indicar se o ciclo de alta se encerrou ou se ainda há espaço para um ajuste final. "A inflação oficial veio em desaceleração na margem (0,43%), mas trouxe elementos de preocupação, como a elevação do índice de difusão de 61% para 67% e a persistência de pressões nos serviços subjacentes. Ao mesmo tempo, o ritmo da atividade econômica segue resiliente", argumenta.
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