Para o sociólogo Paulo Ramirez, caso um pontífice conservador seja eleito, a tendência é que haja o afastamento de muito fiéis
Nesta quarta-feira (7) tem início o conclave que escolherá o novo papa após a morte de Francisco, ocorrida em 21 de abril. Duas forças disputam influência: o conservadorismo tradicional da Igreja Católica e os seguidores do legado mais humano e progressista de Jorge Mario Bergoglio, que marcou seu pontificado pela empatia e por reformas.
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O conclave que se inicia é o mais diversificado, com a participação de clérigos de 70 países e, segundo Paulo Ramirez, sociólogo e professor do curso de Ciências do Consumo da ESPM, caso um conservador seja eleito, a tendência é que haja o afastamento de muito fiéis.
“O Papa Francisco trouxe muitos grupos marginalizados para a Igreja, desde casais separados à população LGBTQIA+, além disso, permitiu a ordenação de padres gays, desde que mantenham o celibato, é claro. Um retrocesso na escolha de um papa seria o afastamento de um número cada vez maior de fiéis. Então, (é interessante) que a Igreja tenha esse cuidado, já que Francisco conseguiu resgatar parte da fé daqueles que estavam fora desse círculo”, pontuou.
Segundo Paulo Ramirez, o próximo pontífice terá entre os grandes desafios atuar contra a extrema direita e os negacionismos climáticos e democráticos, bem como contra a rejeição na Europa e Estados Unidos aos imigrantes, além do tradicional combate à pobreza e à miséria mundo afora.
O sociólogo afirmou ainda que o novo papa, assim como Francisco, precisará ter articulação mais intensa nas redes sociais para garantir mais fiéis e maior diálogo com a sociedade.
Nesse sentido, a defesa pelo diálogo sempre foi constante por parte de Bergoglio. Uma das passagens que ficou marcada nessa defesa ocorreu em 29 de dezembro do ano passado, quando se dirigiu aos fiéis na Praça São Pedro, no Vaticano, antes da oração do Ângelus: “o diálogo é o elemento mais importante para uma família e nunca fiquem fechados em si mesmos”. E era como uma grande família que Francisco cuidava dos cerca de 1,4 bilhão de católicos em todo o mundo.
Sobre vivermos em um mundo globalizado e que as fake news são constantes, o professor descarta interferência tanto na escolha do novo pontífice como em eventual pontificado. “Os papas, diferentemente dos pastores evangélicos têm uma formação mais sólida e humanista e mais ligada às transformações do mundo e não ao retrocesso dele”, pontuou.
Para Paulo Ramirez, as fake news devem influenciar muito mais os fiéis conservadores do que necessariamente a escolha do papa. “Um detalhe importante para se observar é que conservadores já fizeram postagens afirmando que o Papa Francisco não os representava, não só no Brasil como no mundo afora”, afirmou o especialista.
A morte do Papa Francisco transcende o Vaticano. Para Fabio Andrade, cientista político e professor de Relações Internacionais da ESPM, o pontífice foi, ao longo de seu papado, um contraponto importante a duas forças em ascensão no mundo: o conservadorismo político de viés reacionário e a radicalização de uma economia global cada vez mais desregulada.
“Com sua ausência, existe o risco de fortalecimento de lideranças nacionais mais conservadoras, especialmente em contextos em que essas forças já estão em expansão”, afirmou Andrade.
Segundo os docentes, embora Francisco tenha nomeado a maioria dos cardeais atualmente aptos a votar, o que sugere a possibilidade de um sucessor com perfil semelhante ao seu, o colégio cardinalício é formado por diversas correntes ideológicas, o que torna o resultado do conclave imprevisível.
Para Paulo Ramirez, a Igreja tem adotado, desde a eleição de Francisco, um posicionamento crítico frente às interpretações mais conservadoras que vêm ganhando espaço no mundo. “A eleição do papa se deu num momento de ascensão da extrema direita, e sua liderança refletiu uma aproximação com pautas tradicionalmente caras à Igreja, como às críticas contundentes às políticas anti-imigração, ao tratamento dado aos refugiados e à escalada de conflitos armados”, afirmou.
Segundo Ramirez, com o avanço da extrema direita em escala global, especialmente com o protagonismo da direita norte-americana, o Vaticano tende a buscar um nome que se oponha de forma clara às visões anti-humanistas em alta. “Não se trata necessariamente da escolha de um papa africano ou asiático, mas de alguém capaz de representar uma resistência firme a esse movimento conservador”, destacou o sociólogo, em relação a cardeais como Peter Turkson (de Gana) e outros da África, e também alguns da Ásia, serem mencionados como potenciais candidatos.
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