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Não podemos normalizar o inaceitável

A cada hora, sete meninas ou meninos foram oficialmente identificados como vítimas de algum tipo de violação

Michelly Antunes
Líder do Programa Nossas Crianças, da Fundação Abrinq.
18/05/2025 | 09:16
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FOTO: Agência Brasil


Em 2024, o Brasil registrou mais de 57 mil notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes, uma média de 156 por dia. Isso significa que, a cada hora, sete meninas ou meninos foram oficialmente identificados como vítimas de algum tipo de violação. O dado, por si só, é alarmante. Mas, por se basear exclusivamente em notificações feitas no sistema público de saúde, esse número está longe de refletir a real dimensão do problema. A maioria dos casos segue silenciada, seja por medo, vergonha, falta de acesso à rede de proteção ou pelo vínculo da vítima com o agressor.

Maio é o mês de mobilização pelo enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, tendo o dia 18 como marco nacional dessa luta. É nesse contexto que a Fundação Abrinq lança uma nova edição da campanha Pode Ser Abuso, com um alerta contundente: estamos diante de um problema estrutural, persistente e amplamente invisibilizado. A campanha parte de uma análise inédita de dados oficiais do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, abrangendo o período de 2009 a 2024.

Nesse intervalo de mais de 15 anos, o Brasil registrou, em média, 28 mil notificações anuais de violência sexual contra crianças e adolescentes. Foram quase 20 mil estupros por ano e mais de 8 mil casos anuais de assédio sexual envolvendo vítimas de até 19 anos. Os dados revelam que crianças e adolescentes representam a maioria das vítimas: 75,6% das notificações de violência sexual, 81,9% dos casos de assédio e 72% dos estupros.

Meninas são maioria em todos os tipos de violência analisados, com mais de 85% das vítimas sendo do sexo feminino. Mas meninos também são vítimas e, muitas vezes, de forma ainda mais invisível. Eles representaram quase 15% das notificações, e o estigma em torno desses casos contribui para que permaneçam ocultos.

Em 2024, duas em cada quatro meninas com até 19 anos que sofreram estupro ou outra forma de violência sexual já havia sido violentada anteriormente, mesmo após atendimento no sistema de saúde. O ambiente doméstico, que deveria ser sinônimo de cuidado e segurança, é o local mais recorrente das violações. Em dois terços dos casos registrados em 2024, a violência ocorreu dentro da própria casa da criança ou do adolescente. 

Denunciar é um ato de proteção. Em caso de suspeita ou confirmação de violência sexual, Disque 100, acione o Conselho Tutelar ou procure a delegacia mais próxima. Reconhecer a gravidade do problema é dar um passo firme na direção da mudança. Precisamos, enquanto sociedade, romper o silêncio que protege agressores e fragiliza ainda mais as vítimas. Não podemos normalizar o inaceitável.




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